A Vida de Martinho Lutero - Subsídios Dominical

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RESVISTA CRISTAO ALERTA
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A Vida de Martinho Lutero

I. Informes Biográficos
1. Sua Vida e Eventos Preparatórios
Martinho Lutero nasceu a 10 de novembro de 1483, em Eisleben, na Alemanha. Ele era o segundo filho de Hans Lutero, pequeno aldeão. Foi criado em Mansfeld. Seu pai, mediante trabalho duro e persistente, conseguiu atingir uma posição respeitável na sua comunidade. Poderíamos dizer que o jovem Martinho, dessa forma, tornou-se membro da classe média da época.

a) Sua Formação

Como estudante, Martinho mostrou-se muito promissor, tendo sido enviado às escolas de latim de Magdeburg (1497) e Eisenach (1498—1501). Em abril de 1501, ingressou na Universidade de Erfurt, onde obteve o grau de bacharel em artes (1502) e de mestre em artes (1505).

Seu pai queria que ele fosse advogado. E assim, a principio, em espirito de obediência filial, ele começou a seguir esse curso. Abruptamente, porém ele interrompeu tais estudos e entrou no claustro dos eremitas agostinianos, em Erfurt. Os historiadores não têm podido explicar essa súbita mudança, mas podemos ter certeza de que era a mão do Senhor que estava dirigindo os acontecimentos na vida de Martinho Lutero.

Alguns historiadores, contudo, dizem que a causa de tão grande guinada na vida de Lutero foi um enorme susto que ele teve quando, certo dia, caminhava de Mansfeld para Erfurt. Ele teria sido apanhado em meio a uma grande tempestade elétrica, e quase foi atingido por um raio. Ele foi derrubado por terra e em seu pavor, gritava: “Ajuda-me, Santa Anal! Eu serei um monge!” E foi assim que ele entrou na carreira eclesiástica, tendo sido consagrado padre em 1507.
Mas Deus o tirou do mosteiro e entre 1508 e 1512, fez preleções de filosofia na Universidade de Wurtemberg, onde também ensinou as Escrituras, especializando-se nas Sentenças de Pedro Lombardo.
Em 1512 formou-se como doutor em teologia. E fazia conferências sobre a Bíblia, especializando-se nas epístolas aos Romanos, Gálatas e Hebreus. Foi durante esse período que a teologia paulina tomou conta de seu coração, e ele foi capaz de perceber claramente os erros da Igreja Católica Romana à luz daqueles documentos fundamentais do cristianismo primitivo.

b) Sua habilidade para liderar
Lutero era homem de elevado intelecto e consideráveis habilidades pessoais. Por isso, foi galgando postos eclesiásticos. Em 1515, foi nomeado vigário, responsável por onze mosteiros. Foi então que se viu envolvido nas controvérsias em torno da venda de indulgências, que se tornara apenas uma fábrica de dinheiro na Igreja Católica Romana, sem qualquer autêntico intuito espiritual.

Em 1516, ele publicou o livro devocional de um autor desconhecido. Essa obra foi publicada sob o título Theologia Deutsch. Algum tempo depois, Lutero tornou-se pároco da igreja da Wittenberg, e tornou-se um pregador popular, proclamando a sua nova fé. E opunha-se à venda fácil e insensata das indulgências, sob a direção de João Tetzel, porquanto ele via que isso só prejudicava o povo de sua congregação, no tocante a essa questão.

c) Influência Política
Alguns têm chegado ao ponto de dizer que, de 1521 a 1525, Lutero foi o verdadeiro líder da Alemanha. Houve a Guerra dos Aldeões em 1525, quando essas classes pobres se revoltaram contra os seus líderes. Lutero tentou estacar o derramamento de sangue, mas, quando os aldeões se recusaram a ouvi-lo, ele apelou para os príncipes a fim de que interviessem e restabelecessem a paz e a ordem.
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2. Suas Lutas Pessoais
Lutero estava galgando posições na Igreja Católica Romana e estava muito envolvido em seus aspectos intelectuais e funcionais. No entanto, estava empenhado em uma feroz batalha pessoal no tocante à questão da salvação pessoal.
Sua vida monástica e intelectual não lhe tinha provido respostas para suas mais aflitivas indagações. Seus ' estudos sobre os escritos de Paulo deixaram-no ainda mais agitado e inseguro.

A declaração paulina: “O Justo viverá pela fé” (Rm 1.17), ia tomando conta, cada vez mais poderosamente, de sua mente. Ele percebia que a lei serve tão-somente para condenar e humilhar ao homem e que, dessa direção, tal como Paulo havia ensinado, não podemos esperar qualquer ajuda no tocante à salvação da alma. Ele estava muito atarefado “repensando o evangelho”.
O fato de que Lutero era um monge agostiniano deve ter influenciado consideravelmente sua maneira de pensar, pois, afinal de contas, Agostinho era bastante paulino quanto a seus pontos de vista. Lutero, pois, estava chegando a uma nova fé, que enfatiza a graça de Deus e a justificação do ímpio mediante a fé.

Essa nova fé tornou-se o centro de suas preleções. Entrementes, ele começou a criticar o domínio da filosofia tomista sobre a teologia católica romana. Expandiam-se os seus horizontes intelectuais e espirituais. Ele estudava os escritos de Agostinho, de Anselmo e de Bernardo de Clairvaux, e nesses escritos descobria a fé que começara a proclamar. Além disso, Staupitz orientou-o para que estudasse os místicos, em cujos escritos ele muito se consolou, fazendo seu espirito alçar voo para novas alturas.

3. As Noventa e Cinco Teses de Lutero
Parcialmente como resultado de sua oposição às indulgências, e inspirado por vários motivos, na noite antes do Dia de Todos os Santos, a 31 de outubro de 1517, Lutero apôs à entrada da Scholosskirche (castelo-igreja), em Wittenberg, as suas noventa e cinco teses acadêmicas, intituladas Sobre o Poder das Indulgências. Ele desejava debater a questão e o seu relacionamento com a doutrina da penitência. Seu argumento era que as indulgências só faziam sentido como livramento das penas temporais impostas pelos padres aos fiéis. Mas Lutero opunha-se à ideia de que a compra das indulgências ou a obtenção das mesmas, de qualquer outra maneira, fosse capaz de impedir Deus de aplicar as punições temporais. Outrossim, ele dizia que elas nada têm a ver com os castigos do purgatório. Lutero também afirmava que as penitências devem ser praticadas diariamente pelos cristãos, durante toda a sua vida, e não algo a ser posto em prática apenas ocasionalmente, por determinação sacerdotal.

4. Resultado das Teses de Lutero
Lutero havia aberto a caixa de Pandora. Ele mesmo ficou assustado diante das controvérsias que se seguiram. A tempestade rugia, com Lutero no centro da tormenta. Foi denunciado em Roma. João Eck, homem muito persistente e habilidoso, foi seu oponente durante o resto da vida, tendo sido ele o estopim da controvérsia.
Eck foi o instrumento usado, acima de qualquer outro, para a condenação e exclusão de Lutero da Igreja Católica Romana. Silvestre Mazzolini, padre confessor do papa, concordou com o parecer condenatório de Eck acerca de Lutero, dando assim maior força à oposição de Eck ao monge agostiniano.
Lutero ainda escreveu seu livro, Resolutiones (1518), no qual defendia seus pontos de vista sobre as indulgências, dirigindo a obra diretamente ao papa. Mas o livro não obteve o menor efeito em favor dos pontos de vista de Lutero. Alguns indivíduos influentes, entretanto, declararam-se em favor dele, e ele se tornou um polemista popular e bem-sucedido. Ocupou-se assim em um debate em Heidelbergue, a 26 de abril de 1518. E os que estavam presentes disseram que ele se saiu bem demais para agradar às autoridades católicas romanas.

5. Ações da Cúria Papal
A 7 de agosto de 1518, Lutero foi convocado a Roma, onde seria julgado sob a acusação de heresia. Lutero apelou para seu príncipe, Frederico, o Sábio, a fim de que o local de seu julgamento fosse mudado para o território alemão. Nas datas de 12—14 de outubro de 1518, compareceu Lutero diante do cardeal Cajetano, em Augsburg, e recusou-se a retratar-se quanto à quinquagésima oitava sentença de suas Noventa e Cinco Teses, o que Cajetano interpretou como rejeição à autoridade do papa. Lutero chegou a mostrar-se arrogante, dizendo que o papa estava pouco informado, quando deveria informar-se melhor. E teve de fugir da cidade. Nessa altura dos acontecimentos, ele deu início a estudos históricos a fim de escudar sua crescente convicção de que o papado não tem qualquer autoridade bíblica, mas tão somente aquela autoridade que fora forjada nos concílios.
Ao assim dizer, como é óbvio, Lutero abandonou a posição católica romana que diz que os concílios não podem equivocar-se. Seus pontos de vista foram defendidos em um debate com João Eck, na Universidade de Leipzig, entre 4 e 8 de julho de 1519. Eck forçou Lutero a admitir que ele sentia que os concílios podem errar, uma doutrina especificamente combatida pela Igreja Católica Romana.

Além disso, Eck fez Lutero confessar que pensava que João Huss havia sido injustamente condenado pelo concílio de Constança. Lutero, por sua vez, ia dependendo cada vez mais da Bíblia, como sua autoridade. Sua rebelião contra o papado tornou-se mais evidente ainda, e ele chegou a crer que muitas corrupções haviam entrado na Igreja Católica Romana através do papado. Começou a falar sobre a influência do diabo na Igreja, dizendo que o papa era o anticristo e o falso profeta (embora ele não soubesse determinar qual dessas duas figuras). Para ele, esse tema tornou-se uma verdadeira obsessão, e apenas um ano antes de sua morte (que ocorreu em 1546 ?), ele publicou um amargo livro, intitulado Sobre O Papado em Roma, Fundado Pelo Diabo.

6. A Convocação Para a Reforma. Após o debate em Leipzig
Lutero começou a reclamar abertamente que a Igreja Católica Romana precisava ser reformada. Publicou uma série de escritos com essa finalidade, entre os quais destacamos um, de longo titulo: Carta Aberta à Nobreza Cristã da Nação Alemã Sobre a Reforma do Estado Cristão.
Lutero procurou obter o apoio de governantes civis para ajudá-lo em seus desígnios. Começou a ensinar o sacerdócio universal dos crentes, Cristo como o único Mediador entre Deus e os homens, e a autoridade exclusiva das Escrituras, em oposição à autoridade de papas e concílios. Também acentuou a necessidade de pôr um fim aos abusos eclesiásticos, tendo alistado várias práticas abusivas nos jejuns, missas, dias santos, votos monásticos (entre os quais a exigência de celibato para os clérigos).

Em sua obra Sobre o Cativeiro Babilônico da Igreja, ele atacou o sacramentalismo da Igreja. Dizia que, pelas Escrituras, só podem ser distinguidos dois sacramentos, o batismo e a Ceia do Senhor. Objetava à alegada repetida morte sacrificial de Cristo, por ocasião da missa. Em outro livro seu, chamado Sobre liberdade Cristi, ele apresentou um estudo sobre a ética cristã, com base no amor. Lutero obteve grande popularidade entre o povo, e também considerável influência entre o clero.

7. A Cúria Romana Ataca de Novo
Havia muito trabalho a ser feito. A situação estava quase fora de controle. A 15 de junho de 1520, a Cúria romana expediu a bula Exaorge Domine, que ameaçava Lutero de ser excomungado, a menos que se retratasse de seus pontos de vista. Lutero respondeu queimando publicamente a bula. Em retaliação, o imperador do Santo Império Romano, Carlos V, recém-eleito, mandou queimar publicamente os livros publicados por Lutero.

8. Lutero é Ouvido
Carlos V queria que Lutero fosse condenado mesmo sem ser ouvido. Mas essa medida não obteve o apoio de teólogos e príncipes. Por ocasião da Dieta de Worms, de 17 a 19 de abril de 1521, Lutero compareceu à convocação. Lutero recusou-se a retratar-se, dizendo que sua consciência era cativa à Palavra de Deus, pelo que se retratar não seria nem correto e nem seguro.
Os historiadores dizem-nos que ele concluiu sua defesa com estas palavras: “Aqui estou; não posso fazer outra coisa. Que Deus me ajude. Amém”. A Dieta respondeu a 25 de maio de 1521, formalizando a decisão de excomungar a Lutero. A nascente Reforma também foi condenada, e foram publicadas ameaças. As palavras finais de Lutero, naquela oportunidade, tornaram-se o grito de guerra da Reforma.

9. Reclusão em Wartburg: a Tradução do Novo Testamento para o Alemão
Lutero permaneceu por dez meses no castelo de Frederico, o Sábio, onde estava bem protegido. Isso forneceu-lhe tempo para trabalhar na tradução do Novo Testamento para a língua alemã. Essa tradução foi publicada em 1522. Com a ajuda de Melancton e outros, a Bíblia inteira foi traduzida, e, então, foi publicada em 1532. Finalmente, essa tradução unificou os vários dialetos alemães, do que resultou o alemão moderno.

11. O Casamento de Lutero
Desde há muito Lutero opunha-se ao celibato forçado do clero. Quando rompeu definitivamente com a Igreja Católica Romana, — encorajou o casamento de padres e freiras que tinham preferido passar para a Reforma Protestante. Ele deu o exemplo, contraindo matrimônio com Catarina Von Bora, filha de família nobre, que fora freira cisterciana. Ela lhe deu seis filhos, três rapazes (Hans, Martinho e Paulo) e três meninas (Madalena; que morreu criança; Isabel, que morreu na infância; e Margarida). Além desses filhos, eles adotaram outras crianças, pelo que na casa havia cerca de dez crianças. Lutero observou que era diferente se acordar pela manhã e encontrar os longos cabelos de uma mulher sobre o travesseiro!

14. Catecismos
Em 1528 e 1529, Lutero publicou, respectivamente, o pequeno e o grande catecismos, que se tornaram manuais doutrinários dos protestantes. Grande ênfase foi dada às doutrinas evangélicas, mormente a justificação pela fé.

15. Enfermidade e Morte
Os últimos anos de vida de Lutero tomaram-se difíceis por causa de problemas digestivos. Ele tinha cálculos nos rins e no pâncreas, os quais lhe causavam muitas agonias físicas. Com frequência, era acossado por ataques de melancolia profunda, daquele tipo que alguns chamam de maníaco depressivo. Apesar desses problemas, era capaz de trabalhar arduamente. Morreu de ataque do coração a 18 de fevereiro de 1546, em Eisleben, onde fora a fim de arbitrar entre os condes de Mansfeld, que estavam em disputa.
Lutero dotado de intensa espiritualidade, que inspirava outras pessoas. Ele dizia que não era nenhum santo, mas afirmava ter cumprido a missão de um profeta.

II. O Legado de Lutero
Martinho Lutero (1483-1546) foi o homem que Deus levantou para dar início, em 31 de outubro de 1517, ao que seria denominado Reforma Protestante. Mas, seu legado para as gerações de cristãos que se seguiram após ele não se deveu apenas à sua contribuição decisiva como líder de um movimento importantíssimo da história do cristianismo. Lutero também tem um grande legado na área da educação, tanto secular quanto cristã.
Foi Lutero quem sistematizou a língua alemã, inspirando as primeiras gramáticas germânicas, durante seu projeto de traduzir a Bíblia para a língua do seu povo. Pouca gente sabe, mas, na época de Lutero, já existia a Bíblia em alemão, mas no chamado "Alto Alemão". O projeto de tradução da Bíblia por Lutero inovou porque consistiu em trazer a Bíblia para a linguagem do povo simples. Ele buscava uma versão mais coloquial das Escrituras, e foi muito bem-sucedido nesse intento. Como resultado, quando surgiram as primeiras gramáticas alemãs, datadas do século 16, elas eram todas baseadas diretamente na tradução da Bíblia para o alemão feita por Lutero.

Como educador que era Martinho Lutero ainda estimulou a criação de escolas gratuitas para toda a população, sustentadas pelo poder púbico. Empenhou-se, inclusive, em campanhas de alfabetização do povo e na formação de bibliotecas. E defendeu também o uso do lúdico no processo de aprendizagem.

Um grande legado foi a nova compreensão das Escrituras. Sem sombra de dúvida, podemos afirmar que Lutero trouxe uma nova compreensão das Sagradas Escrituras. Vamos relacionar essa verdade com um fato que a pesquisa moderna tem contestado historicamente, mas que serve como ilustração (O importante é a grande lição que ele nos traz, independente da veracidade).

Trata-se da Bíblia acorrentada.
Provavelmente, a primeira vez que o reformador deparou-se com uma Bíblia, ela estaria acorrentada. Essa prática se deve ao fato de que uma Bíblia de Gutenberg, em fins do século 15 e início do 16, era de grande valor. Segundo Martin Dreher, "equivalia a uma junta de bois. Caso fosse roubada, o prejuízo seria grande. O jeito era acorrentá-la". Embora esse episódio careça de veracidade, a prática de acorrentar Bíblia era comum na época evitando-se assim o furto.

Por analogia podermos dizer que Lutero libertou as mentes cativas de uma interpretação "vinda de cima", porque as pessoas passaram a ler a Palavra de Deus com seus próprios olhos. Assim, Lutero teria contribuído para a libertação das Escrituras de seus "grilhões". As Escrituras passaram a falar por si mesmas.

Afirmava-se na época de Lutero que só a Igreja e o papa podiam interpretar as Escrituras e que não deviam ser toleradas opiniões e liberdades quanto à consciência e ao culto. Lutero não pensava e nem agia assim. Ele popularizou a Bíblia, fazendo-a chegar ao povo. Não eram os leigos, mas os clérigos que utilizavam da Bíblia.

E Liam-se as Escrituras com olhos filosóficos ou dos Pais da Igreja. Declarava-se no século 16 que as Escrituras eram obscuras e que a Igreja reservava a si o direito de interpretá-las, à sua maneira. Dizia-se, principalmente nos mosteiros, que a leitura da Bíblia era perigosa e que provocava rebeliões.

Os monges e padres conheciam somente a versão latina e a Bíblia completa estava disponível somente aos professores e pesquisadores. Lutero rompe com esse modelo e a Bíblia passa a ser patrimônio de todos: clero, leigos, poderosos, camponeses, homem, mulher, adultos e jovens. A Bíblia tornou-se tão popular que, já em 1535, um em cada setenta alemães possuía um Novo Testamento.

Pelo princípio "Sola Scriptura" ("Somente as Escrituras") dos reformadores, nada poderia ser dito fora das Escrituras. Sobre a penitência como tesouro da igreja, Lutero foi categórico: "Porque - como já disse muitas vezes - isso, não pode ser provada por nenhuma passagem da Escritura nem ser demonstrado por argumentos racionais. Além disso, os que sustentam isso não o provam, mas simplesmente contam, como todos sabem. Ora, eu disse anteriormente que afirmar na igreja alguma coisa, para a qual não se pode apresentar qualquer argumento da razão ou passagem da Escritura comprovando, é expor a igreja à prisão dos inimigos e hereges, já que, segundo o apóstolo Pedro, devemos prestar contas da fé e esperança que há em nós".
Lutero não foi o pioneiro da liberdade de consciência. Vozes anteriores, como Boécio (480-524) e Cassiodoro (480-575), mencionaram a "consciência liberta". No entanto, durante a Idade Média (476-1453), raramente foi mencionado esse termo tão comum aos nossos dias. Lutero não inventou a expressão, mas contribuiu para sua proeminência. Fazer o que Lutero fez e posicionar-se como ele se posicionou foi um grande avanço em sua época.
Outro legado foi o da redescoberta por Lutero da doutrina bíblica da justificação pela fé, que "minou todo o sofisticado sistema eclesiástico que impunha múltiplas cargas de consciência e tributos financeiros ao povo".

Lutero, ao apontar a livre graça de Deus, abriu espaço para a libertação da consciência e dos corpos. Ele abre as portas para a graça libertadora. Com a consciência livre, a pessoa está livre para pensar e agir. Com a consciência livre, pode-se reivindicar toda mudança sem temor, pois a mudança começa na consciência.
O filósofo prussiano Fichte afirma, segundo Cárter Lindberg, "que a contribuição de Lutero à liberdade humana é percebida como uma contribuição universal, e não simplesmente nacional".

Existem várias citações ao longo da vida e escritos de Lutero em que ele invoca a sua consciência. Porém, uma se destaca, quando, diante do imperador do Sacro Império Romano-Germânico, foi-lhe imposto retratar-se. Ele respondeu: "Visto que S. Majestade e Vossas Senhorias exigem uma resposta simples, quero dá-las sem cornos e sem dentes do seguinte modo: a não ser que seja convencido por testemunho das Escrituras ou por argumento evidente - pois não acredito nem nos papas, nem nos concílios exclusivamente, visto que é certo que os mesmo erraram muitas vezes e se contradisseram a si mesmos -, estou convencido pelas Escrituras por mim aduzidas e por minha consciência, que está presa à Palavra de Deus, que não posso e nem quero retratar-me de nada, porque agir contra a consciência não é prudente nem íntegro. Que Deus me ajude. Amem".
Ao dizer que "não é certo nem recomendável proceder contrariamente a sua consciência", Lutero ouviu o porta-voz da igreja dizer-lhe: "Abra mão da consciência. Nada há mais seguro do que submeter-se à igreja". Ou seja, tradição acima das Escrituras — isso Lutero não tolerava!

Um exemplo prático da liberdade de Cristo na vida de Lutero está na própria grafia de seu sobrenome Lutero. Martin Dreher informa que o reformador passou a utilizar-se deste sobrenome a partir dos seus escritos de 1518. Originalmente seu sobrenome era "Luder" ou "Lüder". No alemão moderno, "Luder" é traduzido por "vagabundo". Temos então Martinho Luder. Após anos de reflexões, principalmente em Paulo, o reformador descobriu a liberdade em Jesus. Assim, liberto pela graça e fé em Cristo, passou a grafar o sobrenome utilizando-se da palavra grega "eleutheria", que significa "liberdade". Surge então "Eleutherius", da qual deriva a grafia Luther/Luthero/ Lutero: "Martinus Eleutherius" (Martinho Lutero), aquele que havia descoberto a "eleutheria", ou seja, a liberdade em Cristo.

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